Portuguesa EDP anuncia fechamento de capital no Brasil

A empresa vai pagar R$ 24,00 por ação, um prêmio de 25,3% em relação ao fechamento de quarta-feira, 1; pedido foi feito hoje à CVM

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Atualização:

O grupo português EDP anunciou nesta quinta-feira, 02, a decisão de fechar o capital de sua controlada no Brasil, a EDP Brasil, dando início ao processo para a realização de uma oferta pública de aquisição (OPA) da totalidade das ações ordinárias de emissão da empresa. Ao preço proposto de R$ 24 por ação, a oferta deve custar cerca de R$ 6,1 bilhões, e o grupo já estruturou operações junto a investidores e no mercado para levantar esse capital.

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Diante do montante envolvido, a administração portuguesa salientou que o movimento reforça a posição da EDP no Brasil, que possui ativos considerados de alto valor agregado e estratégicos para o negócio. Afirmou também que a operação seria “uma aposta no mercado brasileiro”, muito embora a companhia antecipe a intenção de alterar o mix do portfólio de ativos.

Segundo a empresa, o objetivo com o fechamento de capital é a simplificação da estrutura corporativa e organizacional da EDP, de maneira a obter “mais flexibilidade na gestão financeira e operacional das suas operações no Brasil”.

O CEO global da EDP, Miguel Stilwell, destacou que o grupo possui duas diferentes estruturas organizacionais no País - a EDP Brasil (que opera os ativos de distribuição e transmissão, geração convencional (hidrelétricas e térmicas) e comercialização) e a EDP Renováveis (que concentra as usinas eólicas e solares de grande porte). Segundo ele, seria possível otimizar o funcionamento dessas estruturas, buscando sinergia de operações, mesmo sem realizar uma efetiva fusão entre as empresas.

Apesar dos eventuais benefícios operacionais e corporativos, analistas do mercado ressaltam que o movimento se justifica pelo atual patamar de preços das ações da EDP Brasil. Os analistas do Credit Suisse destacaram que a empresa, assim como outras elétricas, está sendo negociada a um desconto maior em relação às médias históricas, tendo em vista “ruídos macro e políticos no Brasil”, bem como preocupações regulatórias. Para Carolina Carneiro e Rafael Nagano, o setor está “descontado”, sendo negociado a uma taxa interna de retorno (TIR) real de 9,6%, ante 6,2% dos bonds. No caso específico da EDP Brasil, pelos cálculos do Credit Suisse a ação da empresa está sendo negociada a cerca de 12%, e a uma taxa Valor da Empresa (EV)/RAB implícita de 1,1 vez.

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“A EDP Brasil está listada no Brasil desde 2005, com muitos altos e baixos, mas é considerada uma das ações mais resilientes do setor, pois possui um portfólio integrado, política de dividendos decente e estratégia de alocação de capital relativamente bem-sucedida”, disseram, apontando que o valor justo para a ação seria até superior ao ofertado pelo controlador.

Miguel Stilwell diz que Brasil continua sendo ativo importante para o grupo Foto: Marcelo Chello / Estadão

Um analista de um grande banco estrangeiro, que falou com o Estadão/Broadcast Energia na condição de anonimato, citou que o múltiplo Preço/Lucro a ser pago na EDP Brasil é menor que o mesmo múltiplo no atual preço da ação da holding, por isso a operação gera valor para o grupo. “É uma operação que faz sentido, em termos de valuation, e ainda tem o bônus de não precisar mais lidar com a dor de cabeça do investidor local”, disse.

O analista da Ativa Ilan Arbetman também considerou que a operação é uma “oportunidade de mercado”. “Quando você fecha o capital, não precisa mais passar pelo escrutínio do mercado, seja ele regulatório ou financeiro, tem liberdade maior para tomar os movimentos que a administração quer fazer, e ganha mais rapidez e flexibilidade... Mas, se financeiramente não fosse interessante, o movimento não seria feito”, afirmou.

Ele lembrou que quando a companhia não precisa de recursos de terceiros para fazer frente ao seu plano futuro, o fardo de ter o capital aberto e ter estrutura mais pesada é maior que o benefício econômico que essa opção dá. “Possivelmente a EDP viu que ia ter maior vantagem econômica com o capital fechado e que não precisa se submeter ao escrutínio do mercado e agentes regulatórios e há recursos em caixa para que se lide com os próximos desafios”, disse.

“Considerando que eles conhecem a empresa melhor do que a maioria de nós, ajustados ao risco, uma das melhores alocações de capital que existe é a recompra de suas próprias ações. Melhor do que entrar em uma competição acirrada por novas linhas de transmissão ou usinas de energia renovável não contratadas”, comentou o analista do BTG Pactual, Antonio Junqueira.

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Otimismo

Os profissionais de mercado consideraram que o movimento também é um sinal interessante para o setor. “Isso mostra a confiança do controlador no País, tanto no debate da renovação das concessões quanto em outras variáveis que temos debatido diariamente”, disse Junqueira.

Da mesma forma, analistas do Credit Suisse avaliaram que para sustentar a proposta de fechamento de capital, a EDP Portugal deve estar mais confiante no que diz respeito à renovação dos contratos de concessão das distribuidoras e ao potencial de crescimento com bons retornos do setor no Brasil.

Em coletiva de imprensa, o presidente do conselho de administração global da EDP, Miguel Setas, comentou que existem “boas indicações de que a renovação [da concessão] será feita em moldes parecidos ou equivalentes aos dados para outras distribuidoras”.

Portfólio

Setas também comentou sobre o processo de venda da termelétrica a carvão, de Pecém, que está em andamento. O plano da companhia é concretizar o desinvestimento ainda este ano, segundo ele. Para isso, a empresa espera receber até maio propostas não vinculantes de potenciais compradores.

Além da termelétrica, a companhia também planeja se desfazer de ativos hidrelétricos no Brasil. CEO global da EDP, Miguel Stilwell indicou que a companhia está buscando compradores para ativos hídricos, mas não citou quais seriam. A empresa, anteriormente, tinha anunciado a intenção de venda de três hidrelétricas - Mascarenhas, Santo Antonio do Jari e Cachoeira Caldeirão -, mas depois de concretizar a venda da primeira, no segundo semestre do ano passado, informou que tinha encerrado o processo de venda para as outras duas.

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O executivo salientou que o plano é ter um portfólio no Brasil mais concentrado em redes, clientes e ativos renováveis eólicos e solares. “Acreditamos que esse é o portfólio mais adequado para ter o Brasil”, disse. Ele rechaçou, porém, que essa mudança de mix levaria a uma menor exposição ao País. “Pode aumentar e reduzir em função também dos investimentos que forem fazendo.”

A EDP classificou o mercado brasileiro como tendo “fundamentos sólidos e oportunidades de transição energética” e declarou que 2023 será um ano-chave para o fortalecimento e crescimento da posição da EDP no segmento do solar, tendo em vista que esse mercado está em plena expansão no Brasil e que existem vários projetos em construção que entrarão em operação também ao longo do ano.

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